domingo, 6 de setembro de 2009

Mensagem dos povos originários da América

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Mensagem dos povos originários da América desde La Cocha Guamues, Pasto, Nariño.



Nós, as avós e os avôs, os mamos e as mães, os médicos e as médicas tradicionais, os taitas , sabedores da cultura ancestral e guias espirituais representantes dos povos originários, convocados em Nariño, Colômbia para o Primeiro Encontro Internacional das Culturas Andinas, temos uma palavra para compartilhar, uma mensagem para semear nos corações daqueles que desejem nos escutar.

Nós agradecemos ao Grande Espírito a oportunidade que nos oferece de viver este histórico encontro “TEMPO DE FLORESCER”, e ao povo de Nariño por convocar através deste, à união e o conhecimento dos povos originários da América.

Nós pertencemos a povos e a culturas diferentes, mas reconhecemos que, com base no sentimento da unidade e da lei da origem, a essência do nosso pensamento e da nossa ação é a mesma. Para nós, a diferença nos complementa não nos divide.

Nós, aqueles que tomamos conta da vida, amamos a nossa mãe terra, respeitamos os nossos homens e mulheres mais velhos, guardamos a memória das nossas raízes e sementes, a sabedoria ancestral. Nós, aqueles que preservamos a unidade da humanidade, aqueles que oferecemos o melhor de nós ao Grande Espírito, a nossa sagrada Mãe e o nosso Pai Sol, temos uma visão clara de como fazer as coisas.

É importante reconhecermos, mais do que nunca, que qualquer decisão tomada hoje, terá conseqüências para as gerações futuras, para os nossos filhos e para os filhos das nossas filhas. Nós somos responsáveis pelo futuro.

Historicamente, desde a conquista, temos sido atropelados e enganados pelos olhares do mundo que nos têm excluído. Denunciamos o abuso e o saqueio indiscriminado da nossa Mãe Terra, o despojo dos nossos territórios e da nossa cultura, o ataque constante contra a vida dos nossos líderes e dos nossos povos. Somos conscientes que não é suficiente a denuncia dos nossos problemas frente ao mundo, mas também, a universalização do nosso conhecimento como caminho de solução.

Algumas pessoas nos olham como se fossemos analfabetas já que não aplicamos os parâmetros das suas ciências, mas conhecemos e praticamos os segredos e o alfabeto da Mãe e da natureza, a nossa ciência tradicional.

O nosso pensamento e a nossa palavra são a nossa própria vida, por isso a importância dessa mensagem. Dizemos que a Mãe Terra é só uma. Somos filhos que se aquecem e se sentem acariciados pelo mesmo Pai Sol, pisam na mesma terra, respiram o mesmo ar e banham-se com a mesma água. Somos irmãos, como os dedos de uma mesma mão. Nós não falamos da cor da pele, embaixo dela, todos somos iguais, por isso devemos trabalhar unidos vermelhos, pretos, brancos e amarelos. Respeitando o pensamento de todos, pedimos que o nosso pensamento seja respeitado na prática da reciprocidade.

Evocamos a solidariedade dos povos do mundo e a justiça. Do mesmo modo como nós facilitamos o fluxo da vida, pedimos poder continuar vivendo de acordo às nossas visões do mundo e às nossas próprias formas de ser.

Temos sido responsáveis e guardiões da memória da humanidade, e embora frequentemente tenham tentado nos destruir, a memória continua viva. Esta memória preservada pelos nossos ancestrais, da qual hoje nós tomamos conta e compartilhamos, é antes de tudo, a memória da vida. Nós convidamos todos os povos da Terra para compartilhar esta memória, e renascer a partir da sua semente.

Temos falado do direito à vida. Respeitamos a mudança natural das coisas, o equilíbrio da vida; compreender que no universo tudo tem seu processo e seu tempo.

O convite à Minga do Pensamento que o governo de Nariño nos fez, as Nações Unidas na Colômbia, e outras instituições é um sinal da disposição para escutar a palavra da sabedoria ancestral daqueles que neste momento têm a responsabilidade de tomar decisões. Convidamos aos outros governos do mundo a seguir o exemplo, dialogar e construir conosco um futuro comum.

Propomos a união dos povos originários e destes com os outros povos acolhidos pela nossa única mãe, a Mãe Terra.

Convidamos a compreender e assumir que:

* A água não é só símbolo da vida, mas a mesma vida, o sangue da nossa terra.

Pedimos que a água seja considerada um patrimônio da vida e da humanidade tanto nos nossos territórios ancestrais quanto no mundo todo.

* Iremos continuar sendo os protetores da natureza como parte do equilíbrio entre o ser humano e a mãe terra.

* Se gestem processos de integração das formas da medicina ocidental com a medicina ancestral; se reconhecerem, protegerem e promoverem como o patrimônio cultural dos nossos povos as práticas de cura próprias assim como os seus meios: plantas medicinais, rituais, conhecimentos ancestrais.

* Seja valorizado o lugar da mulher como garante da vida, transmissora da cultura e cuidadora da sabedoria e da saúde dos nossos povos.

* Os povos indígenas estão regidos pela lei da origem e pela lei natural com autonomia, governo e cosmovisão próprios. É necessário e um direito que sejamos reconhecidos como autoridades do nosso território e sejamos consultados para todas as decisões que afetam as nossas vidas.


Estas palavras e conhecimentos que temos herdado dos nossos ancestrais são o nosso legado às futuras gerações, aos nossos filhos e filhas. Com isto garantimos a permanência dos nossos próprios povos indígenas e o consideramos uma contribuição e um presente para a humanidade.

Em nome da reciprocidade, da justiça e do respeito que devem nos unir, pedimos a proteção dos nossos povos, nosso conhecimento ancestral como patrimônio espiritual, material e imaterial da humanidade.

Contem conosco para preservar a existência da humanidade e de todas as formas de vida no planeta terra. O nosso conhecimento ancestral pode ser acolhido como um caminho de cura frente às diversas crises e violências que afligem aos seres humanos, à família, à sociedade, aos estados, à natureza.

Comprometemos-nos ao trabalho e a promoção a partir da nossa força espiritual e cultural para que os governantes da terra trabalhem mais com o espírito e o coração, respeitem mais a natureza e virem preservadores da vida.

Assinado em La Cocha Guamues, Pasto, Nariño, 23 de agosto de 2009.

Os povos: KOGI, WIWA, ARHUACOS, INGAS, CAMENTSA, SIONA, UITOTO, MAYA KICHE, KOFAN, LAKOTA, GUANANO, DESANA, SICUANI, MAPUCHE, MAYA MAM, KICHUA INCA, KALLAWAYA, PIAPOCO, MEXICA, WAYUU.

Tradução: Mariana Blanco
Extraído de Amai-vos

Fonte: Gobernación de Nariño
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