Cynthia McKinney, direto da Líbia
September 2, 2011
Cynthia McKinney foi a primeira deputada negra eleita na
Georgia.
Foi deputada durante seis legislaturas pelo
Partido Democrata de 1986 até 2007.
Partido Democrata de 1986 até 2007.
Foi candidata à presidência pelo
Partido Verde dos EUA, em 2008.
Partido Verde dos EUA, em 2008.
Um dia depois de rebeldes apoiados por EUA/OTAN terem invadido Trípoli, Cynthia McKinney falou, na Universidade Estadual de
Cleveland, no centro de Cleveland, sobre sua viagem à Líbia, em missão para
recolher informações. A palestra do dia 22/8, que estava agendada há semanas,
desde muito antes dos dramáticos eventos em Trípoli, é parte da viagem por 21
cidades, que a deputada que exerce seu 6º mandato e foi candidata à presidência
dos EUA pelo Partido Verde.
Recebida e escoltada por uma guarda de honra do Partido dos
Novos Panteras Negras vestidos de preto e com boinas pretas, McKinney começou
sua palestra mostrando semelhanças entre o modo como a imprensa-empresa
dominante repetidamente mentiu ao povo norte-americano sobre a Líbia, e frases
do ministro da Propaganda do estado nazista Joseph Goebels – “Se uma mentira é
repetida mil vezes, o público acabará por acreditar”. Como termo de comparação,
lembrou uma frase de Muammar Gaddafi: “Uma verdade que se diga ao povo esmaga
mil mentiras”.
Disse que, desde a guerra hispano-americana, a
imprensa-empresa dos EUA tem sido cúmplice dos objetivos da guerra imperialista
dos governos dos EUA. Citou exemplos recentes, como a propaganda que levou à
Guerra do Vietnã, à Guerra do Golfo e à Guerra do Iraque.
A palestra foi patrocinada por uma coalizão ad hoc de várias
organizações da área da grande Cleveland. Entre os patrocinadores estão a
Coalizão de Ação pela Paz de Cleveland, o Partido dos Novos Panteras Negras, as
organizações Nação do Islã, Direito de Retorno aos Palestinos, a Associação
Árabe-Americana de Cleveland, o grupo Código Pink e a União de Estudantes
Negros, dentre outras.
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Como a confirmar o que McKinney dissera, no dia seguinte à
sua palestra em Cleveland Saif al-Islam, filho mais velho de Muammar Gaddafi,
que a imprensa-empresa informara que fora capturado pelos rebeldes, apareceu em
Trípoli, perfeitamente livre, e falou com jornalistas. Mais tarde, os rebeldes
noticiaram que, ninguém sabia como, Saif escapara da prisão. A história dessa
miraculosa fuga não foi repercutida nos jornais e televisões, que passou a
dedicar-se, com estardalhaço, à invasão do complexo onde Gaddafi vivia em
Trípoli, bombardeado ininterruptamente durante vários dias pelos jatos da OTAN.
“Desde a guerra hispano-americana, a imprensa-empresa dos
EUA tem sido cúmplice dos objetivos da guerra imperialista dos governos dos
EUA”.
Quando a rebelião eclodiu, McKinney estava na Líbia,
participando de uma Conferência Panafricana para africanos da diáspora. Foi
convidada para a Conferência, como resultado de ter participado do movimento da
Flotilhas da Paz que tentaram chegar a Gaza. Ela falou sobre aquela
experiência.
Na primeira tentativa de levar ajuda humanitária a Gaza, o
barco em que ela estava foi abordado por um barco de guerra israelense, em
águas internacionais, no meio do Mediterrâneo. Contou que ninguém sabia se
sobreviveria ao ataque. A experiência foi particularmente assustadora, porque,
disse ela, não sabe nadar. Disse que os sacrifícios pelos quais passaram alguns
de seus heróis, como Martin Luther King, Jr., Fred Hampton e Malcolm X,
serviram-se lhe amparo e inspiração durante aquela provação.
Na segunda viagem, sempre tentando chegar a Gaza, foi
seqüestrada por soldados israelenses e mantida numa prisão, em Israel, por sete
dias. Inspirada na “Carta de uma Prisão em Birmingham”, de Martin Luther King
Jr., escreveu sua “Carta de uma prisão israelense”, dia 6/7/2009.
Disse que as matérias jornalísticas que falavam de ataques,
pelas forças de Gaddafi, contra “manifestantes pacíficos” foram mentiras
criadas pela imprensa-empresa, para servir como pretexto para a guerra. Segundo
McKinney, os chamados ‘rebeldes’ estavam sendo financiados e armados pela OTAN
e por Forças Especiais israelenses, para gerar agitação e iniciar um movimento
para derrubar o governo de 41 anos de Gaddafi.
McKinney diz que as notícias distorcidas publicadas pela
imprensa-empresa, de atrocidades que teriam sido cometidas por Gaddafi foram
imediatamente desmentidas pela Anistia Internacional. Em relatório de
investigação feita dia 2/7/2011, sobre os crimes dos quais Gaddafi está sendo
acusado e que podem levá-lo a julgamento pela Corte Internacional, a Anistia
Internacional diz que não encontrou qualquer evidência que comprove a
veracidade das acusações. Mas a Anistia Internacional encontrou provas, sim, de
que os rebeldes estavam fabricando ‘provas’ falsas.
A “ajuda humanitária” acabou por se converter em bombardeio
ininterrupto contra a Líbia por aviões da OTAN, inclusive contra Trípoli,
cidade de 2 milhões de habitantes. McKinney disse que só numa noite, durante o
bombardeio de Trípoli, contou 89 explosões.
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O governo de Barack Obama foi o principal incentivador dessa
guerra, com os governos de Grã-Bretanha, França e Canadá. “Diferente de
governos anteriores, incluindo os dois governos Bush, a Casa Branca de Obama
recusou-se a pedir autorização ao Congresso para enviar o exército dos EUA à
guerra contra a Líbia.” Como desculpa, Obama disse que não era guerra, mas
apenas ‘ação militar cinética’.”
O deputado Republicano de Ohio, Dennis Kucinich, disse, na
ocasião, que, ao ignorar a “Lei dos Poderes de Guerra” Obama cometeu crime que
justificaria ação de impeachment do presidente. (...)
McKinney, que foi a primeira negra a representar a Georgia
na Câmara de Deputados, foi a única congressista a questionar as circunstâncias
suspeitas que envolvem os ataques do 11/9 – usados para justificar a Guerra do
Afeganistão e a mais ampla “guerra ao terror”. Por causa desses questionamentos
sobre o papel do governo Bush no 11/9, os bushistas, coordenados pelo AIPAC
(American-Israeli Public Affairs Committee), injetaram centenas de milhares de
dólares na campanha eleitoral de sua concorrente nas primárias do Partido Democrata,
Denise Majette. Segundo McKinney, os doadores do AIPAC, muitos deles de fora do
estado, aplicaram mais de $1 milhão para derrotá-la em 2002.
Em 2004 McKinney voltou a ser eleita, mas foi novamente
impedida de concorrer nas primárias de 2006, depois de um incidente no qual um
segurança do Capitólio impediu-a de entrar no prédio porque ela não estava
usando na lapela o pequeno broche de congressista. Em declaração no inquérito
policial, o policial acusou McKinney de tê-lo esmurrado. O incidente saltou
para as manchetes. Seus companheiros de Partido e vários líderes de movimentos
pelos direitos civis desertaram e não a apoiaram.
Dessa vez, sua adversária arrecadou, num só dia, de doadores
milionários, mais de 100 mil dólares. Depois de derrotada pela segunda vez,
McKinney deixou o Partido Democrata. Em 2008, concorreu, pelo Partido Verde, à
presidência dos EUA, contra Barack Obama e John McCain.
***
McKinney listou várias razões pelas quais a derrubada de
Gaddafi era interessante, do ponto de vista das potências ocidentais e de
Israel. Primeira, e principal, a Líbia é país riquíssimo em recursos naturais,
principalmente petróleo e água. A Líbia tem a maior reserva de petróleo da
África. Está em território líbio, também, o Grande Rio Subterrâneo, o maior
projeto de dutos subterrâneos e aquedutos construído com recursos
exclusivamente líbios, para abastecer com água potável cidades e vilas do
deserto e que abastece também o litoral mediterrâneo.
Sob o governo de Gaddafi, a Líbia converteu-se em importante
oportunidade de negócios e investimentos para os chineses. Nos primeiros dias
do bombardeio da OTAN, a China evacuou rapidamente cerca de 36 mil
trabalhadores. Quando a ONU aprovou a implantação de uma zona aérea de exclusão
na Líbia, China e Rússia poderiam ter vetado, mas não o fizeram, apoiando de
fato o bombardeio da Líbia. Ainda não se sabe por que não vetaram.
Para McKinney, uma das principais razões pelas quais Gaddafi
foi atacado foi o empenho de seu governo em promover o desenvolvimento de uma
África unida. Segundo ela, o governo de Gaddafi oferecia cerca de $90 bilhões
em assistência econômica a países africanos. Destacou o fato de que Gaddafi
financiou forças antiapartheid na África do Sul.
No governo de Gaddafi, disse McKinney, os líbios tinham
assistência médica pública, universal e gratuita, educação gratuita até a
universidade e programas para aquisição de moradias, sem juros. Como Castro em
Cuba e Chavez na Venezuela, Gaddafi representa uma ameaça ideológica à
oligarquia global capitalista, garantindo meios alternativos de desenvolvimento
para povos do Terceiro Mundo. Por isso foi demonizado pela imprensa-empresa
ocidental e, também por isso, foi derrubado.
McKinney acredita que a chamada “Primavera Árabe” nada mais
é que a aplicação de políticas planejadas por destacados neoconservadores no
documento “A Clean Break: A New Strategy for Securing the Realm”.[4] Esse
documento foi redigido para o governo de Israel por um grupo liderado pelo
ex-vice-secretário de Defesa de Reagan, Richard Perle. “A Clean Break” prega
derrubada de governos em todo o Oriente Médio, para promover a hegemonia de
Israel na região e permitir que Israel expanda seu território. Lá se recomenda
a ‘troca de regime’ no Iraque, nos territórios palestinos, no Líbano, Síria e
Irã.
As ideias de “A Clean Break” foram expostas em reunião no
Pentágono, apenas 10 dias depois do 11/9, da qual participou o general Wesley
Clark. Segundo Clark, o Pentágono tem planos prontos para atacar sete países:
Iraque, Síria, Líbano, Líbia, Somália, Sudão e Irã.
Ao final da palestra, quando se ouviram perguntas do
auditório, um dos presentes (cerca de 200 pessoas, metade de negros
norte-americanos), perguntou se McKinney entendia que Barack Obama deva ser
acusado por crime de guerra. Ela respondeu imediatamente: “Sim, é claro. Claro
que sim.” Foi ovacionada, aplaudida de pé.
Tradução: Vila Vudu
Publicado no site amarchaverde
Original em Bob Baldwin, The Bloomington Alternative
Recebido de Sérgio Caldieri, a quem agradecemos.
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