Articulação Popular e Sindical de Mulheres Negras
de São Paulo
Carta de Princípios
O que é a Articulação Popular e Sindical de Mulheres Negras/SP?
É uma articulação de mulheres militantes dos setores popular, sindical e movimento negro. Não tem caráter de uma entidade porque reúne mulheres dos diversos setores que tem por princípio a luta pela emancipação da mulher negra.
O objetivo da articulação é ampliar o campo democrático de discussão e intervenção da mulher negra, seja no sindicato ao qual ela pertence, seja no seu movimento de moradia, seja na organização especifica de mulheres negras, entidade mista do movimento negro ou terreiro axé que coordena.
A prioridade da articulação é unificar a ação em torno das bandeiras gerais de luta publicada no manifesto da Articulação Popular e Sindical de Mulheres Negras/SP. Portanto esta Articulação tem um caráter organizativo e participativo.
Como participar?
Você deve seguir três passos para aderir à Articulação Popular e Sindical de Mulheres Negras de São Paulo.
Primeiro passo: você deve ler e discutir o Manifesto.
Segundo passo: avaliar junto ao seu setor de intervenção se há identidade política com alguma bandeira de luta da Articulação Popular e Sindical de Mulheres Negras de São Paulo.
Terceiro passo: assinar o manifesto Pro Articulação Popular e Sindical de Mulheres Negras de São Paulo e participar da nossa articulação.
- Conheça um pouco da nossa história...
A Articulação Popular e Sindical de Mulheres Negras de São Paulo– APSMN/SP nasceu do desejo e da vontade política de definir um campo organizado de mulheres negras. A nossa visibilidade política ocorreu a partir 1995, o ano do Tricentenário da morte de Zumbi, quando participamos do Congresso Continental dos Povos Negros das Américas. À época apontou-se a necessidade de construção de uma política de solidariedade de gênero, raça e classe capaz de representar tanto a diversidade organizativa como a política do movimento de mulheres negras no Brasil e América Latina e Caribe.
A partir de 1998, enfrentamos uma fase de refluxo internacional em troca do maior empenho na reconstrução do Fórum Estadual de Mulheres Negras de São Paulo.
No III Encontro Nacional de Mulheres Negras em 2001, postulamos um novo paradigma de construção nacional: a organização das mulheres nos seus estados através de fóruns e articulações.
Agora em 2009, no vazio político da organização das mulheres negras sentimos que falta um espaço de discussão para as mulheres negras e, por isso reapresentamos o ideário da ARTICUILAÇÃO POPULAR E SINDICAL DE MULHERES NEGRAS que desde 1995, se mantém atual, por ser de vanguarda até hoje lhe cabe muito bem a roupagem de 2009.
Convidamos a todas que concordam com essa iniciativa a participar da Articulação Popular e Sindical de Mulheres Negras de São Paulo – APSMN/SP, e fortalecer mais uma forma democrática de luta em prol de todas nós mulheres negras paulistas e paulistanas.
- Princípios da Articulação Popular e Sindical de Mulheres Negras São Paulo – APSMN/SP
1. Organizar politicamente as mulheres negras para combater o racismo, o machismo e a pobreza.
2. Estabelecer aliança prioritária com mulher negra dos setores populares e sindicais.
3. Estabelecer aliança estratégica com as entidades do movimento negro.
4. Divulgar a relação gênero capaz de construir uma nova relação entre o homem-mulher, mulher-mulher e homem-homem que resulte em novos paradigmas e comportamentos sociais.
5. Facilitar o entendimento de que as desigualdades de raça, gênero e classe se relacionam e definem o lugar da mulher negra na atual sociedade.
6. Lutar para o fim da tríplice exploração da mulher negra.
7. Desenvolver a mobilização de forma itinerante, a fim de levar a experiência organizativa aos diferentes locais, cidades e regiões.
8. Fortalecer a cultura política de respeito à diversidade e garantia da auto representação.
9. Incentivar a formação política da mulher negra como cidadã respeitando a pluralidade das lutas nos sindicatos, centrais sindicais, movimento popular, movimento negro e feminista, porém enfatizando a luta contra a opressão de raça, gênero e classe.
10. A partir destas ações buscar estabelecer o princípio de solidariedade entre as mulheres do interior e capital de São Paulo, na perspectiva de construir uma unidade de ação que revele e fortaleça a visibilidade política da articulação e de cada setor nela contido.
11. Garantir estimular a juventude a se organizar enquanto mulheres negras.
12. Estimular o crescimento da liderança popular agregando em sua luta cotidiana (mulheres de partido, sindicalistas, religiosas, juventude, moradia, saúde, educação) as questões de raça, gênero e classe como fatores preponderantes e determinantes da sua emancipação.
13. Promover seminário temático, oficina, encontro estadual e nacional da Articulação Popular e Sindical de Mulheres Negras de São Paulo. Estimular o empoderamento das mulheres da articulação, através da formação política e apoio a mobilidade política em seu campo de ação e na sociedade em geral.
14. Ashè e Luta
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MANIFESTO Pró-Articulação Popular e Sindical de Mulheres Negras de São Paulo
Sandra Mariano lê o Manifesto
no evento de 14 de outubro que
homenageou 12 mulheres negras
Sonia Leite, também atua na Coordenação da APSMN-SP
Estamos no século vinte e um e a globalização ainda é o carro chefe da economia mundial. Na America Latina a inserção e a maior visibilidade dos movimentos sociais impulsionam o crescimento das lideranças populares e a conquista no poder.
O Brasil como os demais países latino-americanos de tradição escravocrata e colonialista inauguraram a fase republicana com uma frágil democracia, mas recentemente deu um passo importante para o fortalecimento dos movimentos sociais com a eleição de um operário a Presidência da Republica. Revertemos a submissão ao modelo neoliberal e ousamos construir no país um novo modo de governar.
Mulheres e negros com espaços de poder!
Os movimentos sociais de ponta “feminista” e “antiracista” vislumbram um novo porvir com a criação da Secretaria Especial de Política para as Mulheres com status de Ministério e posteriormente a Secretaria Especial da Promoção da Igualdade Racial - SEPPIR - hoje Ministério agregando a defesa da população negra, povo cigano, palestino, israelense e população indígena.
Mas, na contramão do avanço político ainda temos no quadro social brasileiro a baixa qualidade de vida da mulher negra, cuja realidade pode ser diagnosticada a cada dado da pesquisa econômica.
Segundo a pesquisa do DIEESE realizada em 2004-2005 a situação da mulher negra no mercado de trabalho nas regiões metropolitanas de Salvador e São Paulo constatou-se que o rendimento por hora das mulheres é, em média, menor que a do homem nas cidades analisadas. Mas quando os rendimentos médios das mulheres negras são comparados aos dos homens não-negros, que estão no topo da escala dos ganhos do trabalho, a duplicidade de discriminações – de raça e de gênero – torna-se inquestionável. A vulnerabilidade da mulher negra no mercado de trabalho se explica por sua maior presença no setor doméstico, atividade tipicamente feminina, desvalorizada pelo baixo salário, elevada jornada, trabalho informal, a margem da legalidade e sem contribuição previdenciária.
A tríplice exploração da mulher negra ao longo do século vinte estimulou o crescimento da liderança da mulher negra nos movimentos sociais, a exemplo do seu protagonismo na Campanha contra a Violência Doméstica e pela Paternidade Responsável. Do protagonismo das trabalhadoras domésticas, desde os anos 1950, na luta pela valorização profissional e melhores salários.
E por que a organização das mulheres negras não cresceu o quanto queríamos?
Em meados dos anos setenta as organizações do movimento negro, também denominadas entidades mistas discutiam as mazelas impostas pelo racismo estrutural sem deixar de chamar atenção para a situação das mulheres negras.
Nos anos oitenta na onda emergente da política de gênero foram surgindo grupos de discussão sobre a especificidade da mulher negra e apontavam novas reflexões para o feminismo nascido fruto de uma realidade estruturada no escravismo, colonialismo e patriarcalismo. As mulheres negras são discriminadas por serem mulheres, negras e pertencerem à classe operária.
Estava posto um novo paradigma o dilema da relação entre raça, gênero e classe.
Era preciso definir trincheiras de luta e palavras de ordem que espelhassem a especificidade destas mulheres.
No fim da década de 80 mulheres negras do movimento popular, feminista e sindical aprofundam o debate do novo paradigma e se articulam em busca de resposta capaz de mobilizar as mulheres negras de base popular, trabalhadora e feminista.
Foi gestada a Articulação Popular e Sindical de Mulheres Negras do eixo São Paulo – Capital que reuniu mulheres negras com notória liderança em Campinas, Pedreira, Indaiatuba e São Carlos e da capital de São Paulo. Grande destaque foi a participação massiva das sindicalistas ligadas ao Sindicato das Trabalhadoras Domésticas de Campinas e São Paulo. Era uma articulação de vanguarda que acabou mobilizando muitas mulheres e influenciaram outras na mesma linha de ação.
Hoje temos muitas articulações de mulheres negras.
Apesar da imaturidade política de alguns setores que, por vezes isolam a mulher negra sindicalista, justificando que sua militância não é da natureza do movimento negro. Da mesma forma as religiosas, principalmente aquelas ligadas a Religião de Matriz Africana não são consideradas militantes da questão racial. Por fim há o isolamento da lésbica que ainda tem uma discussão incipiente no interior do movimento de mulheres.
Diante da saga da luta da mulher negra desde Luiza Mahim a Lélia Gonzalez, da intervenção política da mulher negra em cargo de poder como: presidenta, ministra, senadora, deputada ou vereadora ate a recente organização da jovem negra definimos que é importante o fortalecimento da organização da mulher negra, com novos instrumentos político como a Articulação Popular e Sindical de Mulheres Negras para aprofundar seu empoderamento e emancipação diante da opressão de raça, gênero e classe.
No cenário da atual crise financeira internacional, o capitalismo evidencia seu descontrole e avidez por mais e mais lucros e quer jogar nas costas dos que estão na base da pirâmide o alto custo da crise causado pela ciranda financeira mundial.
No Brasil a equipe financeira do Governo Lula deu a volta por cima. Já conhecemos o remédio para essa crise. Hoje mais que nunca é necessária a articulação entre o setor popular, sindical, movimento negro, mulher, jovem e homossexual para dar um tom diferenciado a mais essa fase da barbárie do capital e do neoloberalismo.
Convocamos todas as mulheres negras guerreiras a juntar-se a Articulação Popular e Sindical na medida em que se identificam com:
- A luta intransigente contra o racismo
- A luta pelo fim do machismo
- A luta pelo fim da pobreza
- A luta por mais emprego, melhores salários e igualdade salarial para as mulheres negras
- A luta contra a exploração sexual das crianças e adolescentes
- A luta contra a violência doméstica
- O respeito e preservação das religiões de matrizes africanas
- O direito a livre orientação sexual
- O direito a educação pública de qualidade e acesso a universidade
- O direito a saúde e direitos reprodutivos
- A defesa da paternidade responsável
- A defesa da moradia digna
- A valorização da trabalhadora doméstica
- O emponderamento da mulher negra
As 12 Guerreiras homenageadas em 14 de outubro de 2009.
Observando a ausência da Tereza Santos (através de um vídeo, gravado no RJ) e de nossa saudosa Mariza Dandara.
Da esquerda para a direita: Verinha (Movimento de Moradia); Vanderli Salatiel (Diretora Fórum África); Regina Aparecida (Quilombola); Mãe Dango (Lider Religiosa); Regina Semião (Sind. Trab Doméstica Campinas); Diva Alves (Lider Comunitária, Vereadora em Mauá/1992-1996); Penha (introduziu as Tranças Africanas em SP); Maria Helena (Embaixatriz do Samba/SP); Beth Beli (Mestre de Bateria) e a MC Mafalda, que nos coroou na apresentação da atividade.
Homenagem a 12 mulheres guerreiras.
Celebração pelo reconhecimento da luta da mulher pela igualdade e respeito à população negra paulista e paulistana.
Palmas para as nossas Guerreiras:
- Diva Alves da Silva
- Elisabeth Belizário
- Irmã Lindaura
- Mam´etu Inkise Dango
- Maria Helena da Silva Brito
- Marisa Dandara (em memória)
- Maria da Penha do Nascimento
- Regina Aparecida Pereira
- Regina Maria Semião
- Tereza Santos
- Vanderli Salatiel
- Vera Eunice Rodrigues da Silva
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