Metade dos jovens sofre privação no Brasil
Estudo do PNUD sobre países do Mercosul diz que 50% desse grupo amarga situação insatisfatória em pelo menos uma área essencial
Montevideo, 12/12/2009
Felipe Lessa - da PrimaPagina
Cerca de 50% dos brasileiros com idade entre 15 e 29 anos sofrem pelo menos um tipo de privação em uma gama de quatro itens, segundo cálculo feito pelo PNUD para o Relatório de Desenvolvimento Humano Mercosul, lançado nesta sexta-feira (12/12/2009 no Uruguai. O objetivo é apresentar uma abordagem mais ampla de pobreza nos quatro países do bloco econômico (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai).
A ideia defendida no estudo, intitulado Inovar para incluir: jovens e desenvolvimento humano, é que a pobreza, mais do que uma questão somente monetária, pode ser entendida também como limitação de oportunidades. A análise leva em consideração saúde e risco ambiental; acesso a educação; acesso a recursos (rendimento e condições de moradia) e exclusão social, num total de oito indicadores.
O RDH Mercosul aponta que o “enfrentamento dessa dinâmica multidimensional da pobreza e da exclusão constitui o desafio social mais importante para a criação de condições favoráveis para o bem-estar e o fomento do protagonismo dos jovens” na melhoria do nível de desenvolvimento humano na região.
Estudo do PNUD sobre países do Mercosul diz que 50% desse grupo amarga situação insatisfatória em pelo menos uma área essencial
Montevideo, 12/12/2009
Felipe Lessa - da PrimaPagina
Cerca de 50% dos brasileiros com idade entre 15 e 29 anos sofrem pelo menos um tipo de privação em uma gama de quatro itens, segundo cálculo feito pelo PNUD para o Relatório de Desenvolvimento Humano Mercosul, lançado nesta sexta-feira (12/12/2009 no Uruguai. O objetivo é apresentar uma abordagem mais ampla de pobreza nos quatro países do bloco econômico (Brasil, Argentina, Paraguai e Uruguai).
A ideia defendida no estudo, intitulado Inovar para incluir: jovens e desenvolvimento humano, é que a pobreza, mais do que uma questão somente monetária, pode ser entendida também como limitação de oportunidades. A análise leva em consideração saúde e risco ambiental; acesso a educação; acesso a recursos (rendimento e condições de moradia) e exclusão social, num total de oito indicadores.
O RDH Mercosul aponta que o “enfrentamento dessa dinâmica multidimensional da pobreza e da exclusão constitui o desafio social mais importante para a criação de condições favoráveis para o bem-estar e o fomento do protagonismo dos jovens” na melhoria do nível de desenvolvimento humano na região.
Para cada indicador usado, o relatório adotou uma “linha de pobreza”. Nos indicadores de meio ambiente (saneamento) e saúde (taxa de pessoas com Aids, porcentagem de mortes for causas violentas no total de mortes, taxa de mortalidade por faixa etária), são considerados em situação de privação os que estão entre os 25% com piores resultados. Em educação, os que têm menos de 6 anos de estudo (ou menos de 9, para a faixa acima de 20 anos). Em habitação, os que vivem em domicílios com mais de 3 pessoas por dormitório. Em renda, os que não têm condições de adquirir uma cesta de produtos e serviços definida pela CEPAL (Comissão Econômica para América Latina e Caribe). Em exclusão social, os que não têm acesso à educação nem ao mercado de trabalho.
O estudo, que se baseou em estatísticas oficiais, dividiu os resultados por faixa etária. Em todos os países do Mercosul a privação é mais disseminada entre os mais novos, de 15 e 19 anos. No Brasil, 51,7% dos jovens nessa faixa têm condições de vida insatisfatórias em pelo menos uma das dimensões estudadas. A proporção é um pouco menor entre 20 e 24 anos (47,8%) e entre 25 e 29 anos (49,6%). No entanto, nesses últimos grupos a privação é mais intensa: 29,6% dos brasileiros com 25 a 29 anos sofrem com pelo menos duas privações (na faixa de 15 a 19, a proporção é de 20,8%).
O Uruguai é, de modo geral, o que registra as menores porcentagens e o Paraguai, as maiores, como mostra o quadro abaixo.
O Brasil é o que se sai pior na dimensão educação. Apesar da sensível melhora verificada desde 1995, apenas 80% dos jovens de 15 a 29 anos têm 6 anos ou mais de estudo. Na Argentina e no Uruguai, são 95%; no Paraguai, 89%. A qualidade do ensino — que não é computada na análise da privação, mas é abordada no relatório — também deixa a desejar, embora as informações sobre o tema sejam relativamente escassas. Para o ensino médio, conta-se com as provas do PISA (Programa Internacional para Avaliação de Estudantes), empreendidas pelos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) desde 2000, que avaliam a habilidade dos estudantes nas disciplinas de leitura, matemática e ciências.
O resultado das avaliações de 2006 demonstra que os alunos têm deficiências nas três áreas. Dos estudantes que participaram das provas no Brasil, 73% não alcançaram o nível básico de competência em matemática, por exemplo. O mesmo percentual é de 64% na Argentina e de 46% no Uruguai. Entretanto, esses patamares ficam muito abaixo da média dos países da OCDE, que é de 21%.
A evasão escolar e a baixa qualidade de ensino estão intimamente relacionadas com a exclusão social que os jovens poderão sofrer durante a vida adulta, destaca o relatório. “O abandono precoce do sistema educacional é uma das principais fontes de exclusão, já que provoca déficit nas qualificações e, em consequência, diminuição das oportunidades de trabalho”, aponta o estudo. O efeito principal desse ciclo vicioso entre baixa escolaridade e exclusão é a alta taxa de desemprego entre jovens. Em 2007, o desempregados menores de 30 anos representaram cerca de 60% do total de pessoas sem trabalho na Argentina, no Brasil e no Uruguai. Já no Paraguai essa proporção era de 70%.
A fragilidade na inserção dos jovens do mercado condiciona sua emancipação, ou seja, o processo de sair da casa dos pais e formar um novo lar. Isso influi diretamente no nível de renda e também nas condições de trabalho. Mesmo assim, os jovens que responderam a sondagens feita especialmente para o RDH Mercosul são otimistas: 75% acreditam que suas possibilidades são maiores do que a de seus pais e que sua situação precária é transitória.
Violência e saúde
A análise das condições de saúde dos jovens no Mercosul abrange não só indicadores ligados a doenças (como acesso ao saneamento e taxa de mortalidade) como fatores exógenos. A maioria das mortes nesse grupo não é resultado de enfermidades ou falta de estrutura hospitalar, mas sim de causas externas, como violência, suicídio e acidentes.
Entre as causas externas, a violência mostra-se especialmente relevante. As taxas de mortalidade de homens no Mercosul são maiores que as de outros países da América Latina, como Costa Rica e Chile. Particularmente no Brasil, esses níveis são muito elevados. Segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) de 2008, a taxa de homicídios de homens entre 15 e 24 anos chegou a 97,2 por 100 mil habitantes, contra 52,5 em 2006. Esse número é superior em mais de 70 pontos à taxa média da população (26,2). Para efeito de comparação, o mesmo indicador de mortalidade entre os jovens argentinos é de 8,9. Entre os uruguaios não é muito diferente: 7,2. Os paraguaios apresentam um valor mais alto (21,3), mas mesmo assim bastante inferior aos verificados no Brasil.
Em relação à área de saúde especificamente, a porcentagem de jovens brasileiros de baixa renda pesquisados pelo RDH Mercosul que indicam a baixa qualidade dos hospitais como um problema grave é o dobro da dos argentinos: 12,6%, contra 6,2%. Entre os paraguaios a taxa é de 4,5% e uruguaios é de 7,1%. Outro ponto que tem causado preocupação é a falta de informações sobre Aids e métodos anticonceptivos, sobretudo no Paraguai e no Uruguai, onde o índice foi de 14,7% e 13,3%, respectivamente.
O estudo aponta que a superação dos aspectos negativos e o aproveitamento das potencialidades dependem dos próprios jovens e do apoio dos governos por meio de políticas públicas. Isso porque essas pessoas possuem certas limitações socioeconômicas na definição de seus destinos. Contudo, em contrapartida, sua capacidade de ação e de mudança é fundamental para a melhor dos níveis de desenvolvimento humano na região.
Fonte: PNUD Brasil
recebido de Jorge Márcio jorgemarcio@mpc.com.br, a quem agradecemos.
Blog InfoAtivoDefnet - Dedicado à defesa dos direitos humanos de pessoas com deficiência e demais cidadãos e cidadãs do Brasil e do mundo.
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O estudo, que se baseou em estatísticas oficiais, dividiu os resultados por faixa etária. Em todos os países do Mercosul a privação é mais disseminada entre os mais novos, de 15 e 19 anos. No Brasil, 51,7% dos jovens nessa faixa têm condições de vida insatisfatórias em pelo menos uma das dimensões estudadas. A proporção é um pouco menor entre 20 e 24 anos (47,8%) e entre 25 e 29 anos (49,6%). No entanto, nesses últimos grupos a privação é mais intensa: 29,6% dos brasileiros com 25 a 29 anos sofrem com pelo menos duas privações (na faixa de 15 a 19, a proporção é de 20,8%).
O Uruguai é, de modo geral, o que registra as menores porcentagens e o Paraguai, as maiores, como mostra o quadro abaixo.
O Brasil é o que se sai pior na dimensão educação. Apesar da sensível melhora verificada desde 1995, apenas 80% dos jovens de 15 a 29 anos têm 6 anos ou mais de estudo. Na Argentina e no Uruguai, são 95%; no Paraguai, 89%. A qualidade do ensino — que não é computada na análise da privação, mas é abordada no relatório — também deixa a desejar, embora as informações sobre o tema sejam relativamente escassas. Para o ensino médio, conta-se com as provas do PISA (Programa Internacional para Avaliação de Estudantes), empreendidas pelos países da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) desde 2000, que avaliam a habilidade dos estudantes nas disciplinas de leitura, matemática e ciências.
O resultado das avaliações de 2006 demonstra que os alunos têm deficiências nas três áreas. Dos estudantes que participaram das provas no Brasil, 73% não alcançaram o nível básico de competência em matemática, por exemplo. O mesmo percentual é de 64% na Argentina e de 46% no Uruguai. Entretanto, esses patamares ficam muito abaixo da média dos países da OCDE, que é de 21%.
A evasão escolar e a baixa qualidade de ensino estão intimamente relacionadas com a exclusão social que os jovens poderão sofrer durante a vida adulta, destaca o relatório. “O abandono precoce do sistema educacional é uma das principais fontes de exclusão, já que provoca déficit nas qualificações e, em consequência, diminuição das oportunidades de trabalho”, aponta o estudo. O efeito principal desse ciclo vicioso entre baixa escolaridade e exclusão é a alta taxa de desemprego entre jovens. Em 2007, o desempregados menores de 30 anos representaram cerca de 60% do total de pessoas sem trabalho na Argentina, no Brasil e no Uruguai. Já no Paraguai essa proporção era de 70%.
A fragilidade na inserção dos jovens do mercado condiciona sua emancipação, ou seja, o processo de sair da casa dos pais e formar um novo lar. Isso influi diretamente no nível de renda e também nas condições de trabalho. Mesmo assim, os jovens que responderam a sondagens feita especialmente para o RDH Mercosul são otimistas: 75% acreditam que suas possibilidades são maiores do que a de seus pais e que sua situação precária é transitória.
Violência e saúde
A análise das condições de saúde dos jovens no Mercosul abrange não só indicadores ligados a doenças (como acesso ao saneamento e taxa de mortalidade) como fatores exógenos. A maioria das mortes nesse grupo não é resultado de enfermidades ou falta de estrutura hospitalar, mas sim de causas externas, como violência, suicídio e acidentes.
Entre as causas externas, a violência mostra-se especialmente relevante. As taxas de mortalidade de homens no Mercosul são maiores que as de outros países da América Latina, como Costa Rica e Chile. Particularmente no Brasil, esses níveis são muito elevados. Segundo dados da OMS (Organização Mundial da Saúde) de 2008, a taxa de homicídios de homens entre 15 e 24 anos chegou a 97,2 por 100 mil habitantes, contra 52,5 em 2006. Esse número é superior em mais de 70 pontos à taxa média da população (26,2). Para efeito de comparação, o mesmo indicador de mortalidade entre os jovens argentinos é de 8,9. Entre os uruguaios não é muito diferente: 7,2. Os paraguaios apresentam um valor mais alto (21,3), mas mesmo assim bastante inferior aos verificados no Brasil.
Em relação à área de saúde especificamente, a porcentagem de jovens brasileiros de baixa renda pesquisados pelo RDH Mercosul que indicam a baixa qualidade dos hospitais como um problema grave é o dobro da dos argentinos: 12,6%, contra 6,2%. Entre os paraguaios a taxa é de 4,5% e uruguaios é de 7,1%. Outro ponto que tem causado preocupação é a falta de informações sobre Aids e métodos anticonceptivos, sobretudo no Paraguai e no Uruguai, onde o índice foi de 14,7% e 13,3%, respectivamente.
O estudo aponta que a superação dos aspectos negativos e o aproveitamento das potencialidades dependem dos próprios jovens e do apoio dos governos por meio de políticas públicas. Isso porque essas pessoas possuem certas limitações socioeconômicas na definição de seus destinos. Contudo, em contrapartida, sua capacidade de ação e de mudança é fundamental para a melhor dos níveis de desenvolvimento humano na região.
Fonte: PNUD Brasil
recebido de Jorge Márcio jorgemarcio@mpc.com.br, a quem agradecemos.
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