segunda-feira, 25 de julho de 2011

IBGE: cor da pele tem influência na profissão


Cor da pele tem influência na profissão, aponta IBGE

Arícia Martins e Luciano Máximo
De São Paulo - 25/07/2011

Trabalho:
Avaliação é de 71% dos entrevistados em cinco Estados e no DF

Pesquisa inédita realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostra que o trabalho é o local onde as pessoas acreditam que a raça ou cor têm a maior influência na relação social entre as pessoas. A resposta foi dada por 71% dos entrevistados de uma amostra de cerca de 15 mil domicílios, coletada em 2008 em cinco Estados brasileiros (Amazonas, Paraíba, São Paulo, Rio Grande do Sul e Mato Grosso), além do Distrito Federal.

Com o objetivo de classificar o peso dos fatores cor e raça em diferentes situações da vida do brasileiro, a "Pesquisa das Características Étnico-raciais da População: um Estudo das Categorias de Classificação de Cor ou Raça" ouviu pessoas com 15 anos ou mais, escolhidas por sorteio.

Cada entrevistado podia apontar três alternativas para questões sobre trabalho, relação com a Justiça e polícia, convívio social, escola, repartições públicas, atendimento à saúde e matrimônio. Depois de trabalho, as relações sociais mais citadas foram Justiça/polícia, escolhida por 68,3% dos pesquisados pelo IBGE, e convívio social, item mencionado por 65% das pessoas ouvidas.

Para especialistas consultados pelo Valor, a indicação de que cor e raça têm influência relevante em várias situações da vida do brasileiro reflete uma realidade há muito conhecida: o Brasil ainda é um país preconceituoso, sem verdadeira integração racial, o que é sentido principalmente no trabalho - espaço social que, assim como a escola, é o que mais envolve o cotidiano do cidadão.


Na opinião do cientista político Daniel Cara, o estudo do IBGE só mostra em termos de opinião o que já é verificado de forma objetiva. "A questão racial pesa negativamente para os negros nos aspectos-chave para a construção da qualidade de vida e questão social", avalia. "A opinião dada na pesquisa só corrobora que é preciso tomar medidas no sentido de superar o preconceito."

A violência contra os negros é tão gritante, diz Cara, que acaba superando discussões sobre o preconceito sofrido no emprego e na escola. "Desde o mercado de trabalho passando pela educação, e chegando especialmente nas relações que evidenciam violência e criminalização, no fundo a vida cotidiana mostra que o Brasil é um país que ainda precisa evoluir muito para superar a questão racial", afirma.

Maria Julia Nogueira, secretária de combate ao racismo da Central Única dos Trabalhadores (CUT), lembra que, nos últimos anos, o país "avançou muito" nas políticas de enfrentamento da discriminação racial, mas o preconceito ainda pode ser percebido nas estatísticas. "Pesquisas mostram, invariavelmente, que a disparidade entre trabalhadores negros e não negros é enorme, principalmente nas questões salariais e de ocupação de cargos de chefia", afirma a sindicalista.

Recente relatório produzido pelo Instituto Ethos e pelo Ibope , a partir de um levantamento que colheu a opinião de mais de 620 mil empregados de 109 empresas grandes, revelou que 67,3% dos cargos de direção dessas companhias são ocupados por brancos, enquanto os negros representam 31% dos principais cargos da elite empresarial.

Mesmo com três diplomas, incluindo uma graduação em literatura inglesa pela universidade Westminster College, de Londres, o advogado João Antonio Alves reclama da dificuldade de conseguir emprego e diz que "já cansou" de sofrer preconceito racial "velado" em processos seletivos, principalmente em empresas de grande porte.

"Dizer que o Brasil é um país sem preconceitos, que não há racismo por aqui, é chover no molhado. Pegue as grandes corporações: quantos chefes são de cor? Tenho três faculdades e sofri muito para me colocar no mercado numa posição à altura da minha capacidade, mas hoje trabalho por conta própria e estou muito bem profissionalmente", conta Alves.

Na opinião de Antonio Guercio, também advogado, associar cor e raça a questões profissionais é um sinal claro de que "o preconceito existe e faz parte do nosso dia a dia". "Uma pessoa dizer que a cor tem peso no seu trabalho é obviamente uma percepção negativa, porque mostra que a sociedade brasileira ainda mantém arraigados certos valores da época do Brasil escravocrata. Ou seja, quando falamos de negros continuamos dando importância aos valores externos e não aos valores intrínsecos de cada cidadão", diz Guercio.

"É um dado um pouco chocante", diz a pesquisadora do IBGE Ana Lúcia Saboia em alusão à pesquisa sobre raça e cor. Ela destaca, no entanto, que o instituto não pôde chegar a outras conclusões a partir das respostas encontradas no estudo, mas que pretende aprofundar melhor o tema em futuros levantamentos.

"Estamos estudando como essa questão da cor e da raça está presente no debate público do país. Também estamos preocupados em fazer com que o nosso sistema de dados esteja sempre adaptado à realidade brasileira. Esse é um primeiro estudo para vermos como será daqui para frente", diz Ana Lúcia.


Extraído de Valoronline

Estatuto da Igualdade Racial é usado de forma positiva


Ministra diz que Estatuto da Igualdade Racial é usado de forma positiva no Brasil

22/07/2011 - 17h18
Da Agência Brasil

Brasília – O Estatuto da Igualdade Racial, em vigor há um ano, está sendo usado de forma positiva no Brasil, de modo que "possa valer a pena na vida de um negro". A afirmação foi feita pela secretária de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, Luiza Bairros, ao participar de debate que o programa Revista Brasil, da Rádio Nacional AM, promoveu para lembrar o primeiro ano do Estatuto.

Segundo a ministra, o Estatuto é uma Lei sem consequências e é autoaplicável. Luiza Bairros disse que está em estudo a criação de uma rede integrada para acompanhar mais de perto casos de racismo e desigualdade racial no país. "Com a rede, vamos procurar formas de mostrar à sociedade o quanto é importante usar o Estatuto, pois vivemos num país que ainda sofre uma resistência muito grande ao uso da legislação antirracista.”


Para a assistente técnica da Coordenação de Assuntos da População Negra (Cone) Nair Novaes Aparecida, que também participou do debate, ainda há racismo e discriminação no país, o que está cada vez mais visível na sociedade brasileira. “O negro, como qualquer outro cidadão, tem direitos e deveres, e deve ser tratado como um ser normal, sem preconceito, racismo ou discriminação”, disse Nair.

Segundo a representante do Cone, cabe ao Poder Público ir às entidades, dialogar com a sociedade, ir aos municípios, fazendo a interlocução com a sociedade civil e levando o conhecimento do Estatuto à população. "É preciso informar à população que esse Estatuto pode fazer a diferença para o cidadão e indivíduo negro numa sociedade bastante preconceituosa. Devemos valorizar o negro na nossa sociedade.”

Em São Paulo, o Estatuto da Igualdade Racial está abrindo portas para o combate ao racismo, disse Antonio Carlos Arruda, representante da Coordenação de Políticas para População Negra e Indígena da Secretaria da Justiça e da Defesa da Cidadania do Estado.

“Aqui em São Paulo, estamos instalando centenas de postos de atendimento à população, para que ela possa denunciar a discriminação racial. De outubro do ano passado até junho deste ano, tivemos 68 denúncias. Nosso objetivo com esses postos é triplicar o número de denúncias para tomarmos providências e impedir que se repitam os casos de racismo" possa ocorrer novamente”, ressaltou Arruda.

O Estatuto da Igualdade Racial, sancionado em 20 de julho do ano passado pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, como Lei 12.288/2010, tem como objetivo garantir à população negra a efetivação da igualdade de oportunidades, a defesa dos direitos étnicos individuais e coletivos e o combate à discriminação e às demais formas de intolerância étnica.

Edição: Nádia Franco


Unegro: População negra vê polícia como inimigo


População negra vê polícia como inimigo, diz líder da Unegro

23/07/2011
Matéria reproduzida em: Correio do Brasil e Jornal do Brasil

“Apesar dos avanços, não podemos negá-los, nós, negros, ainda estamos em desvantagem”. A análise é do coordenador nacional da União de Negros Pela Igualdade (Unegro), Jerônimo Silva Júnior, que, em entrevista a Terra Magazine, comentou o estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) sobre características Étnico-Raciais da População, divulgado nesta sexta-feira (22 de julho 2011).

Segundo a pesquisa, 63,7% dos entrevistados reconheceram a influência da raça e da cor na vida das pessoas. Entre as situações nas quais esses fatores exercem maior interferência, conforme o resultado da sondagem, o trabalho aparece em primeiro lugar, seguido pela relação com a polícia/Justiça, o convívio social e a escola.

Para Jerônimo Silva Júnior, também coordenador da Unegro na Bahia, a pesquisa “só reafirma as reivindicações por políticas públicas de promoção da igualdade racial”. “O negro defende a tese de que as relações socioeconômicas e políticas no país foram estruturadas numa concepção de hierarquia racial. Isso não só por conta dos 350 anos de escravidão, como também toda negação de políticas específicas voltadas para a busca da igualdade de oportunidades”, explica ele.

“Hoje podemos dizer que a origem das desigualdades sociais no Brasil é majoritariamente por conta das desigualdades raciais que ainda permanecem, fruto desse processo escravocrata, que foi a base de sustentação da nossa economia durante 300 anos. Isso reflete até então na estrutura social”, considera.

Na avaliação dele, há, sim, relação entre a cor da pele e as oportunidades no mercado de trabalho. “Vou te dar um exemplo. Sou funcionário de um dos maiores bancos do País. Na semana passada, encontrei, pela primeira vez, nos meus 23 anos de banco, um gerente com cabelo dread. Foi tão emocionante que eu o abracei, apertei a mão dele e falei: ‘Poxa, que felicidade encontrar alguém parecido comigo dentro da agência’”.

“Uma pesquisa fez uma avaliação de negros nas 50 maiores empresas brasileiras. Quando chega no corpo gerencial, não existem negros. Fiz um levantamento na própria empresa em que trabalho, um banco com mais de 800 funcionários, e constatei que os negros não chegam a 100. Isso, aqui, em Salvador, onde a população é composta por 90% de afrodescendentes”, exemplifica.


“Caçar negros”

De acordo com a pesquisa do IBGE, 68,3% dos entrevistados afirmaram que a cor influencia na relação com a Justiça e com a polícia. O coordenador nacional da Unegro, mais uma vez, recorre à história para explicar a existência de um conflito entre os negros e os aparatos de segurança do Estado.

“A polícia no Brasil nasce para caçar escravos fugidos. Ao ganharmos a liberdade, o direito de sermos enquadrados como cidadãos, foram caracterizados como delinquentes, criminosos, aqueles que tinham o fenótipo dos ex-escravos com a ideologia Lombrosiana (Cesare Lombroso) ou aqueles que praticavam alguma ação que era tida como ato criminal, seja ela praticar religião de matriz africana, considerado contravenção, ou jogar capoeira”, esclarece. “Todas as nossas práticas culturais eram vistas como algo criminoso. Então, a polícia sempre foi vista pela população negra como alguém que estava ali para nos reprimir”, conclui ele.

Segundo ele, nos dias de hoje, essa concepção ainda se mantém. “Com a maioria dos centros urbanos vivendo o conflito da violência, isso recai em uma população marginalizada, que, coincidentemente, é de predominância negra. Então, a população negra e a marginalizada, negra ou não, vêm a polícia como inimigo, e não como um instrumento de proteção do Estado. Acredito que com novas experiências, como as Unidades de Polícia Pacificadora, a polícia comunitária, quem sabe, daqui a anos, a gente reverta esse quadro”, acredita.

Denominada “Pesquisa das Características Étnico-Raciais da População: um Estudo das Categorias de Classificação de Cor ou Raça”, a sondagem do IBGE coletou informações em 2008, em uma amostra de cerca de 15 mil domicílios, nos estados do Amazonas, Paraíba, São Paulo, Rio Grande do Sul, Mato Grosso e Distrito Federal.


Fonte: Terra Magazine

Link de referência no Vermelho


sexta-feira, 15 de julho de 2011

Marighella e Prestes entrarão para o livro “Heróis da Pátria”

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Marighella e Prestes entrarão para o livro “Heróis da Pátria”


Qua, 13 de Julho de 2011 11:16 - Informes PT

Um projeto de lei (nº 1771/2011) que inscreve os nomes dos comunistas brasileiros Carlos Marighella e Luis Carlos Prestes no livro dos "Heróis da Pátria", depositado no Panteão da Liberdade e da Democracia, em Brasília, foi apresentado na Câmara Federal pelos deputados Emiliano José (PT-BA) e Edson Santos (PT-RJ).

Emiliano José fez parte do combate contra a ditadura militar, foi preso político por quatro anos, torturado, participou de movimentos políticos e jornais clandestinos à época e escreveu diversos livros sobre o assunto, sendo um deles "Carlos Marighella: O inimigo número um da ditadura militar".

O parlamentar credita a Carlos Marighella e Luis Carlos Prestes o título de Heróis da Pátria por suas importantes e marcantes passagens na história do Brasil. "Eles estão entre os principais nomes na luta revolucionária, comunista, democrática, patriótica e socialista no País. Seus nomes jamais serão apagados da história, da memória do povo brasileiro", justificou.

Emiliano afirma que tanto Prestes quanto Marighella participaram decisivamente da vida política do País. "Prestes desde os anos 1920 e Marighella a partir dos anos 1930. Se encontram nos anos 1930 no PCB. Depois foram presos e a partir daí passaram a militar juntos. Até o fim da vida se dedicaram à luta democrática. Se encontraram na reta final da vida. O essencial é que foram lutadores da liberdade e democracia, independente das diferenças momentâneas".

Fonte: Assessoria Parlamentar

Extraído de Informes PT