quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Cuba deixa morrer o preso político negro Zapata Tamayo - 2

OPINIÃO

Contra o seqüestro de um mártir

Carlos Moore*

Orlando Zapata Tamayo, um jovem trabalhador negro pobre cubano, morreu nesta terça-feira após uma greve de fome de 86 dias em protesto contra a brutalidade que vinha sofrendo na prisão.

Desde 2003, ele vinha sendo mantido como um prisioneiro político em um centro de detenção localizado no interior de Cuba. Em 50 anos do regime de Fidel Castro, Zapata se converteu assim no primeiro dissidente negro que entregou a própria vida para protestar contra a opressão racial, a negação dos direitos civis, dos direitos humanos e políticos.

"Meu filho foi assassinado por causa de sua pele negra", disse a mãe de Zapata, em meio aos choros, quando recebeu a noticia. A pergunta é: por que as autoridades cubanas permitiram que este homem morresse, precisamente no momento em que tantas vozes, em todo o mundo, têm se levantado condenando a situação racial na ilha?

Preso por suas atividades políticas corajosas, Zapata foi acusado de "desordem pública", “desacato às autoridades” e "perturbação da ordem". Ele foi condenado a três anos de prisão. Mas enquanto cumpria a sentença, foi acusado de "rebelião" e condenado novamente a um total de trinta e seis anos! Este fato que pode parecer incrível à maioria no mundo, não o é em Cuba, especialmente se a pele do condenado é negra.

Os negros cubanos presos, há muito, se queixam de serem submetidos a tratamento diferenciado com humilhações e espancamentos, não merecendo algumas amenidades que são oferecidas aos brancos. Estima-se que 85 por cento da população carcerária cubana é de negros, e que dos cerca de 200 presos políticos, 60 por cento sejam também negros. É o racismo cubano que permanece, mesmo atrás das grades.

Zapata, um pedreiro de profissão, não aceitou os espancamentos, as humilhações e o tratamento diferenciado por causa de sua cor. Depois de ser gravemente atacado por guardas que o deixaram quase morto, ele iniciou uma greve de fome, em 3 de dezembro de 2009, na prisão de Olguín, no leste de Cuba. Isso aconteceu exatamente dois dias depois de acadêmicos, artistas e intelectuais do mundo negro terem emitido uma declaração importante, protestando contra as condições raciais e as violações dos direitos humanos na ilha.

A determinação de Zapata para ter sua humanidade respeitada e, até mesmo, morrer se necessário fosse, sinaliza uma grande mudança nos acontecimentos dentro de Cuba; mudança que está redefinindo a fisionomia da oposição política na ilha.

Durante os últimos 25 anos uma nova força apareceu, crescendo não apenas em números, mas em complexidade, apontando para os problemas da discriminação racial, do racismo e do sexismo em Cuba, na vanguarda da luta por uma mudança não-violenta. Essas novas forças parecem ter pego de surpresa, tanto o regime de Castro, quanto a oposição exilada de direita, cuja esmagadora maioria é branca. Ambos foram forçados a se reposicionar num esforço para reafirmar seu controle sobre aqueles a quem consideravam como puros reféns políticos: os negros cubanos.

É esta nova configuração da oposição cubana, em Cuba, que tem provocado a ira dos governantes da ilha. Ativistas de direitos civis têm apontado o caso do líder comunista negro Juan Carlos Robinson, ex-secretário provincial do Partido Comunista, prisioneiro há 12 anos, após ter sido acusado, em 2006, das mesmas irregularidades - corrupção – de que fora acusado o ministro do exterior Roberto Robaina, um branco, em 2002. Ora, contra este último somente foi decretada a prisão domiciliar. Por que o tratamento diferenciado?

Os ativistas de direitos civis apontam também para as execuções em 2003 de Jorge Luis Martínez Isaac, Lorenzo Enrique Copello Castillo e Leodán Bárbaro Sevilla García - três jovens negros que sequestraram uma lancha na tentativa de fugir de Cuba. O fato de dois deles serem veteranos da guerra em Angola, não impediu que o regime os executassem como "terroristas", num prazo de 48 horas após sua captura. Foi a primeira vez que o governo de Fidel Castro executara alguém por seqüestro. Os ativistas de direitos civis acreditam que o motivo foi a cor da pele das vítimas: todos negros!

"As autoridades não perdoam àqueles a quem consideram como ‘negros fugitivos´", explicaram os ativistas. Eles avaliaram que, ao executar esses jovens negros, o regime enviou uma mensagem codificada à população afro-cubana de que a dissidência, e muito menos a oposição, não seriam tolerados, especialmente se viesse dos negros. Os ativistas apontam, também, para as práticas agressivas de abordagem policiais contra os jovens negros em Cuba, como sendo uma das principais causas da super lotação de negros nas prisões.

Mas, para entender por que as autoridades cubanas permitiram a greve de fome de Zapata até as últimas conseqüências, é necessário entender o outro lado da moeda: a saber, a reação dos chamados “exilados" anti-Castristas, predominantemente brancos, nos Estados Unidos, ao assassinato de Zapata. Para estes grupos, claramente, trata-se de marcar pontos políticos e de se aproveitar do martírio de um opositor negro.

Nessa ótica, pode-se esperar que esses “exilados” tentem recuperar a situação ao seu proveito, com declarações espalhafatosas. Já é o caso com as principais formações políticas da extrema direita exilada nos USA, tais como: o Movimento Democracia, liderado por Ramón Saúl Sánchez; a Fundação Nacional Cubano Americana, liderada por Pepe Hernández e Jorge Mas Santos; e em especial o Diretório Democrática Cubano, liderado por Orlando Gutierrez e o Conselho Cubano pela Liberdade, chefiado por Ninoska Pérez Castellón.

Todos estes grupos vêm trabalhando para sufocar e controlar as novas forças de oposição em Cuba, e investem grandes recursos nesse sentido. Mas, suspeita-se que essas tentativas estão destinadas a satisfazer os interesses espúrios da antiga oligarquia cubana derrubada pela Revolução, e cujo domínio se baseara na segregação racial. É por isso, que as lágrimas de crocodilo derramadas pelo congressista cubano-americano Lincoln Díaz-Balart, em relação à morte de Zapata, longe de o identificar como um defensor da igualdade racial em Cuba, constitui-se numa farsa.

Certamente não tenho a pretensão de falar em nome daqueles que em Cuba constituem a maioria. Mas, não estou longe da verdade dessa maioria ao afirmar que ela dificilmente poderia estar lutando com o fim de re-empoderar aquela minúscula elite branca e rica que foi derrubada em 1959. É essa elite segregacionista que esses exilados, chamados de anti-castristas, representam.

Orlando Zapata Tamayo está morto. Ele é agora um mártir do povo. Mas aqueles que lutaram e compartilharam de suas aspirações não podem permitir que o corajoso e íntegro legado deste homem e sua memória sejam “sequestrados” e usurpados. Aqueles que, antes de 1959 o desprezaram por ser negro, e que continuam a fazê-lo apesar das lágrimas hipócritas derramadas, não podem roubar esse legado. O legado de Zapata pertence ao futuro de Cuba, e não ao seu passado neo-colonial, segregacionista e subserviente.

SOBRE O AUTOR:

* Carlos Moore é Etnólogo e Cientista Político, autor do recém-lançado “Pichón: Raça e Revolução na Cuba de Fidel Castro” (Lawrence Hill Books, 2008). Moore é chefe de pesquisa honorário na Escola de Pós-Graduação e Pesquisa da University of the West Indies, em Kingston, Jamaica.

Texto original em inglês / Original in English
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Cuba deixa morrer o preso político negro Zapata Tamayo - 1

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Muere el disidente cubano Orlando Zapata Tamayo tras 85 días en huelga de hambre

Orlando Zapata Tamayo formaba parte de un grupo de 75 disidentes condenados en la primavera de 2003 con penas de hasta 28 años de cárcel

24/02/2010

La Habana. (EFE).- El preso político cubano Orlando Zapata Tamayo murió hoy en un hospital de La Habana tras 85 días en huelga de hambre para pedir que se le tratara como "prisionero de conciencia", informaron fuentes opositoras. Varias fuentes dijeron a Efe que Zapata Tamayo falleció entre las 15.30 y 16.00 hora local (entre 20.30 y 21.00 GMT) en el hospital Amejeiras, a donde fue trasladado anoche desde un centro médico para reclusos de la capital cubana tras el deterioro de su estado de salud.
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Agregaron que no han podido hablar con la madre del preso político, Reina Luisa Tamayo, pero indicaron que familiares les confirmaron la muerte. Elizardo Sánchez, de la Comisión Cubana de Derechos Humanos y Reconciliación Nacional (CCDHRN), declaró a Efe que el deceso de Zapata Tamayo, "aparte de una tragedia para la familia, es una muy mala noticia para todo el movimiento cubano de derechos humanos y también para el Gobierno, porque esa muerte era evitable". Consideró que el fallecimiento de este disidente va a tener "graves consecuencias porque era un preso de conciencia adoptado por Amnistía Internacional (AI)".

El caso de Zapata Tamayo, que formaba parte del grupo de 75 disidentes condenados en la primavera de 2003 con penas de hasta 28 años de cárcel, fue planteado por España en la reunión sobre derechos humanos celebrada el jueves pasado en Madrid entre altos cargos españoles y cubanos.

El disidente había sido trasladado de la cárcel de Camagüey, situada 533 kilómetros al este de la capital, a un hospital de reclusos de La Habana el 16 de febrero pasado debido a la gravedad de su estado de salud. La madre del prisionero político planea trasladar el cuerpo de su hijo a la provincia oriental de Holguín para que sea sepultado en la ciudad de Banes.

Muere-el-disidente-cubano-Orlando-Zapata-Tamayo
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quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Unesco quer reduzir estereótipo de gênero nos media do Magreb

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Unesco quer reduzir estereótipo de gênero nos media do Magreb

02/02/2010

De acordo com o Centro de Formação e Pesquisa para as Mulheres Árabes cerca de 78% de todas as imagens de mulheres transmitidas pelos meios de comunicação da região não reflectem as suas realidades de forma adequada.

Carlos Araújo, da Rádio ONU em Nova Iorque.

Jornalistas da região do Magreb, no norte de África, vão participar a partir desta terça-feira numa série de seminários organizados pelo escritório da Organização da ONU para Educação, Ciência e Cultura, Unesco, em Rabat, no Marrocos.

O objectivo é melhorar a capacidade de produção de programas audio-visuais mais sensíveis a questões de género e livre de estereótipos.

Material de Referência

Uma nota da agência da ONU indica que a primeira acção de formação destina-se a produtores de televisão da Argélia, Mauritânia, Marrocos e Tunísia.

Uma publicação intitulada "Mulher e a Televisão no Magreb" irá servir como material de referência para o curso.

De acordo com o Centro de Formação e Pesquisa para as Mulheres Árabes cerca de 78% de todas as imagens de mulheres transmitidas pelos media da região não reflectem as suas realidades de forma adequada.

Outros especialistas indicam que as mulheres são entrevistadas com menos frequência e que os seus pontos de vista são raramente incluidos em documentários.

Os seminários da Unesco, que irão decorrer nos próximos dois anos, destinam-se a profissionais e executivos da televisão pública, rádio e imprensa escrita.

Fonte Rádio ONU