sexta-feira, 13 de julho de 2012

Adeus a Eduardo de Oliveira, um lutador da igualdade racial

Morre Eduardo de Oliveira, um lutador da igualdade racial

12/07/2012

Morreu na tarde desta quinta-feira (12) Eduardo Ferreira de Oliveira, ex-vereador pelo PDC, em 1958, um dos primeiros militantes negros e tido por todos como o mais aguerrido. Aos 86 anos, diagnosticado com problemas no coração, o professor Eduardo, como era carinhosamente chamado por todos, sofreu uma insuficiência renal por conta de uma arritmia cardíaca. Morre um guerreiro, mas sua luta permanece como um exemplo a ser seguido.




O velório ocorrerá a partir das 22h, desta quinta, no Hall do Plenário Primeiro de Maio, 1º andar, Câmara Municipal de São Paulo, Viaduto Jacareí, 100, Centro. O enterro está marcado para às 15h de sexta-feira (13), no Cemitério da Lapa, o cemitério da Goiabeira - Rua Bérgson, 347, Lapa, São Paulo, SP.

Diversas organizações do movimento negro já emitiram notas de pesar pela morte do militante incansável. “Era o militante do militante do movimento negro mais velho na atualidade. Ele tinha a consciência profunda de quem era os inimigos do Brasil, do povo, e ele tinha foco em sua luta. Ele nos ensinou como lutar. Durante toda a sua vida ele militou e contribuiu para a igualdade racial. É uma perda que vai emocionar todo movimento porque é como um pai de todos nós que vai embora”, declarou emocionado Edson França, presidente da União de Negros e negras pela Igualdade (Unegro).

Edson, que integra o Conselho Nacional da Igualdade Racial ao lado do professor Eduardo de Oliveira, fez questão de mencionar alguns pontos da trajetória dele, como quando compôs o Hino à Negritude, aprovado no Congresso Nacional e aguardando sanção presidencial. Também fundou o Congresso Nacional AfroBrasileiro (CNAB) e um dos responsáveis pela aprovação do Estatuto da Igualdade Racial.

“Como conselheiro da República, enfrentou a todos para a aprovação do estatuto. Encarou olho no olho a todos que já tentaram sufocar a luta do povo negro. Ele defendeu todas as bandeiras de luta negros e negras”, lembrou o dirigente da Unegro.

A Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir), a Confederação das Mulheres do Brasil, a Federação árabe Palestina do Brasil (Fepal), e a Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen) também divulgaram notas.

"O movimento negro brasileiro perde hoje, 12 de julho de 2012, um dos seus mais longevos e ilustres militantes, o professor Eduardo de Oliveira. Sem nunca perder a crença de que ainda poderemos viver uma sociedade livre do racismo, o autor do Hino à Negritude nos deixa contribuições importantes como poeta, jornalista, escritor, primeiro vereador negro da cidade de São Paulo, presidente e principal articulador do Congresso Nacional Afro-Brasileiro (CNAB)", diz um trecho da nota da Seppir.

“Sempre foi um lutador e muito lúcido. Ele estava numa lucidez tremenda, apesar da idade avançada. Por isso, não esperávamos essa notícia agora”, comentou Sandra Mariano, da Conem.

Eduardo de Oliveira era viúvo desde 2009 e deixou seis filhos, além de netos e bisnetos. “Um eterno lutador. Essa é a imagem que fica de alguém que lutou a vida inteira para combater a discriminação racial não somente no Brasil, mas no mundo”, declarou José Francisco Ferreira de Oliveira, 54 anos, filho do professor Eduardo. Ele também lembrou da importância que seu pai teve na inserção da discussão racial dentro dos partidos políticos. Atualmente, militava no Partido Pátria Livre.

Eduardo de Oliveira também escreveu livros como "Quem é quem na negritude brasileira (registro salutar sobre personalidades negras da nossa história)" e poesias. Em uma delas, intitulada Banzo, disse:

"Eu sei, eu sei que sou um pedaço d'África
pendurado na noite do meu povo.
Eu sinto a mesma angústia, o mesmo banzo
que encheram, tristes, os mares de outros séculos,
por isto é que ainda escuto o som do jongo
que fazia dançar os mil mocambos...
e que ainda hoje percutem nestas plagas."


Deborah Moreira
Da redação do Vermelho

Para mais:
Alguma poesia - BMusic

Memória e história na poesia de Eduardo de Oliveira: reescrever-se no corpo do tempo em As gestas líricas da negritude, por Giovanna Soalheiro Pinheiro - ufmg.br/literafro



Eduardo de Oliveira canta o Hino à Negritude, de sua autoria.




segunda-feira, 2 de julho de 2012

Brasileira Nhá Chica vai ser beatificada

Brasileira Nhá Chica vai ser beatificada

Decreto aprovado pelo papa Bento XVI reconhece milagre realizado pela religiosa mineira

28 de junho de 2012 - O Estado de S.Paulo

O papa Bento XVI aprovou na quinta-feira, 28, a publicação do decreto que permitirá a beatificação da brasileira Francisca de Paula de Jesus, conhecida como Nhá Chica. A data ainda não foi definida.

Houve festa na quinta-feira na cidade mineira de Baependi, a 390 quilômetros de Belo Horizonte, onde Nhá Chica viveu. O decreto reconhece o milagre recebido por Ana Lúcia Meirelles por intercessão da futura beata. Ana Lúcia manifestou sua emoção em entrevista à Rádio Vaticana. Ela tinha hipertensão pulmonar e um defeito congênito no coração.

Nhá Chica era filha e neta de escravos. Ficou órfã aos 10 anos. Já em vida era conhecida como "mãe dos pobres", pois dedicava-se assiduamente à caridade. Construiu uma capela à Nossa Senhora da Conceição - hoje um santuário -, onde seu corpo está enterrado.

O papa também aprovou decretos que tornam mais próxima a beatificação de outros fiéis. Dois decretos, por exemplo, atestam a prática em grau heroico das virtudes cristãs pelo bispo espanhol d. Álvaro del Portillo (primeiro sucessor de São Josemaria Escrivá, fundador do Opus Dei) e pelo bispo americano d. Fulton Sheen, conhecido por seus escritos sobre a religião católica.



Para mais: Memorial Lélia Gonzalez Informa
 - Nhá Chica: escrava brasileira beatificada