sexta-feira, 20 de novembro de 2009

A Consciência Branca da Globo - 2

fonte: www.sociolaismo.org.br
-
Ao Sr Diretor da Novela Viver a Vida e ao Sr autor Manoel Carlos

Custa-me crer que a Rede Globo financia cenas como a do dia 16/11/09 da novela Viver a vida e que ao permiti-la toda a direção desta emissora considera que não haveria problemas em transmiti-la.

Como mãe, esposa, psicóloga há 16 anos, funcionária pública, especialista em Psicologia Jurídica e Mestre em Saúde Coletiva, além da experiência das lutas cotidianas que todos temos, considero-me capaz de expressar meu protesto público e minha análise particular da mensagem expressa pelo conteúdo exibido, tendo em vista que minha formação me facultou a possibilidade do raciocínio, e me fez ver um pouco além da cena protagonizada entre Thaís Araújo e Lilian Cabral; cena por sinal deprimente, não condizente com o talento de ambas, pela baixeza e inescrupulosidade de tamanha violência, despropositada em variados níveis.

O 1º deles: a humilhação exagerada do ser humano crendo-se culpado por algo absolutamente fora do seu controle, a saber o acidente de alguém;

: a cena nos traz o retorno ao tempo colonial, impresso no imaginário social de todos nós, mas nem sempre resgatado com facilidade, afinal já se passou tanto tempo, não é mesmo? Esta mesma cena remete-nos a mais uma propaganda subliminar de rebaixamento da figura do negro, submisso e subserviente à Senhora do Engenho, a Poderosa que dirige seu olhar ao que ela nem mesmo considera um ser humano- Cena, a meu ver desrespeitosa e racista, reforçando o domínio preconceituoso do homem sobre o próprio homem, herdeiro da tão sofrida escravidão.

: O cenário grotesco onde alguém de joelhos pede perdão, nos faz pensar que não é necessário tamanha humilhação para se reconhecer erros. A admissão de erros não retira a postura de dignidade humana, levando uma pessoa a suspensão total de sua auto-estima.

: A incitação contundente do sentimento de culpa que afetou até mesmo alguns clientes meus, com quadros graves de depressão, que não suportaram ver a cena sem que a mesma gerasse mais culpa e mal-estar, bem como outras repercussões trazidas.

O que os senhores querem com isso? Produzir mais doença coletiva?

Certamente, as estratégias psicológicas utilizadas pelos senhores confundem a opinião pública, onde muitos não conseguiram ver o racismo implícito ou explicito? A violência descabida ou cabível? A culpabilização desmedida ou merecida?

Não tolerarei cenas como essa e meu protesto é público, com conhecimento de causa e o que é pior, repudio como mãe, como educadora e psicóloga a subestimação da inteligência do povo brasileiro que todos vocês supõem, ao lançarem cenas como essas que agridem nossa sensibilidade, confundem as emoções e mantém preconceitos, distâncias sociais, reforçando gradativamente, crenças e valores obsoletos, eu diria também, criminosos- racismo é crime, seja ele explícito ou não, é crime!

A criminalização do racismo é a vitória de um povo que cansou de ser subjulgado e julgado pela cor da pele.

Historicamente, a prisão, na sua concepção sociológica, e a criminalização trazem no seu bojo a figura do negro, do pobre e do louco como bodes expiatórios das misérias sociais e da hipocrisia das relações. Sendo assim, em plena semana que temos a honra de homenagear a cultura negra, seus hábitos e tradições, os senhores reforçam que o lugar dos negros, se não for na cadeia, é de joelhos no chão, levando bofetadas.

Não subestimem nossa força como opinião pública e não acreditem que estamos dormindo, hipnotizados pelo magia das emoções desequilibradas.

Não somos marionetes. Sabemos que os senhores vivem de nossa audiência que certamente não será mais a mesma. Para aqueles que ainda não despertaram para isso, há muitos que podem influenciá-los, eu sou uma dessas pessoas.

Solicito uma retratação pública, uma explicação, se é que podem fazê-lo.
Sem mais,
Bianca Cirilo

Nenhum comentário:

Postar um comentário